Quantcast
Channel: Um drible nas certezas » política
Viewing all articles
Browse latest Browse all 11

Pastor Pascoal Piragine eleito novamente para a presidência da Convenção Batista Brasileira

$
0
0

Pastor da Primeira Igreja Batista de Curitiba desde 1988, Pascoal Piragine foi eleito para a presidência da Convenção Batista Brasileira – mandato que já exerceu uma vez no biênio 2007-2008.

Sua eleição significa um monte de coisas.

Primeiro, ela acontece pouco depois de o pastor protagonizar um dos vídeos mais assistidos do youtube, em que desfila uma série de manipulações e informações equivocadas para iludir seus fiéis e induzi-los a não votarem no PT nas eleições de 2010. Já escrevi sobre isso aqui e aqui, e não vou ficar insistindo nesta tecla.

O fato é que Piragine representa um papel que faz muito sucesso entre o público que o elegeu na assembléia da CBB. E sintetiza melhor do que ninguém as idiossincrazias de ser batista no Brasil.

Fico muito à vontade para comentar sobre isso porque conheço de perto a situação dos batistas, e o meu nome ainda deve estar lá no rol de membros de uma igreja desta denominação – à qual não tenho vergonha de pertencer apesar dos desmandos de seus líderes mais influentes.

Não me lembro a primeira vez que vi o Piragine pregar, mas tenho marcado na memória o dia em que ele proferiu uma aula inaugural na Faculdade Teológica Batista do Paraná, que deve ter sido no início de 1999, quando eu dava aulas de música num curso para obreiros. Além de ter usado de seu costume de ultrapassar em muito o tempo marcado para sua fala – outra das marcas deste grande orador esteve muito empregada na referida noite: a habilidade em fazer cada um sentir o sermão como uma mensagem pessoal.

O tema da prédica foi com base na estatística de crescimento dos batistas brasileiros no ano anterior: 2%. Piragine terminou o culto fazendo com que todos os presentes (era uma platéia basicamente de estudantes de teologia e quiçá futuros pastores e obreiros batistas – boa parte deles oriundos da própria igreja do Piragine) se ajoelhassem em sinal de contrição pelo pecado de não pregarem o suficiente a fé batista. 2% significa crescimento vegetativo – algo como acrescentar apenas os filhos dos batistas, e não novos conversos. Sendo os batistas portadores da verdade divina, tal fato seria inaceitável, uma demonstração de indolência dos fiéis na disseminação das boas novas.

Este tipo de postura, capaz de empolgar fiéis pelos templos afora, embute um voluntarismo e uma esperança de ver o Brasil “diante do altar de Deus”, eufemismo para um país de maioria batista, de preferência no qual os líderes políticos beijem a mão dos pastores.

Quando escrevi meu libelo contra o vídeo do pastor (que se tornou o texto mais comentado neste blog, e agora com a caixa definitivamente fechada, assim como esta também está, desde já – veja sobre a política de comentários do blog aqui) alguém comentou contra minha afirmação de que o Pastor Pascoal ignorava a teologia. Brandiram um título de doutor, que está anunciado também lá na página da CBB (notícia linkada acima).

Ora, “Doutor em Ministério”, pela Faculdade Teológica Sul Americana, de Londrina (PR). Esta instituição possui um curso de graduação reconhecido pelo MEC, e é razoavelmente bem-avaliada no IGC. Mas não possui curso de mestrado nem doutorado em teologia recomendado pela CAPES, o que significa que o título de doutor ostentado é falso.

O fato de o pastor ostentar um título que não tem validade no sistema educacional brasileiro é sintomático. Provavelmente nem graduação reconhecida ele tem. Mas para os batistas o título tem o único valor que importa, visto os evangélicos serem os portadores da verdade divina – um pastor batista tem, certamente muito mais autoridade que qualquer sistema de avaliação do MEC, na cabeça de um batista. Isso apenas é uma das facetas do autismo que faz com que os batistas se tornem cada vez mais irrelevantes no Brasil.

Incapazes de dialogar sequer com a teologia feita nos séculos XIX e XX, o que os batistas, sob este tipo de liderança somos capazes de oferecer ao Brasil no século XXI?

Cartamente não mais do que este exemplo patético de irrelevância.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 11

Latest Images





Latest Images